Certa vez em uma noite chuvosa; fui visitar
um irmão; que mora numa rua transversal a minha. No caminho, passava eu por um
beco que dava acesso a rua quando vi a um canto um gato. Espremendo-se no canto
de uma parede para escapar da chuva. Alem de ter ficado comovido com a situação
do pobre gato; também me veio uma lembrança do fundo de minhas memórias para
quem sabe me fazer voltar no tempo. Lembrei-me de Ananias. Um gato vira-latas
que morou conosco entre 1985 e 1991; era um gato de pelo liso, preto e branco.
Seu nome: Ananias. Foi lhe dado por causa de um programa de humor apresentado
por Agildo Ribeiro. O nome do programa infelizmente não me recordo; mas, havia
um quadro nele chamado O CLUBE DO ANANIAS feito co marionetes; uma alusão
talvez ao cassino do chacrinha. Gostávamos muito do quadro; tanto que
brecávamos imitando a voz dos personagens entre nós.
E como havia muitos gatos na vizinhança.
Gatos vira-latas que não deixavam ninguém dormir, por causa de seus miados e
suas correrias sobre os telhados. Era uma coisa assim: divertida e ao mesmo
tempo penoso. Sim! Era penoso conseguir dormir em meio aos miados dos gatos
apaixonados. Sempre quando estavam no cio... Era uma verdadeira balada.
Em meio a esse monte de gatos nos surgiu
Ananias. Meu irmão mais novo e meu primo lhe deram o nome de tanto brincar com
ele. Ananias era um gato esperto. Acho que foi a primeira vez que passei
acreditar que a natureza também possui alguma inteligência. Ananias atendia
pelo nome quando o chamávamos; como se fosse um cachorro. Era ciumento e
gostava de nos fazer companhia enquanto assistíamos TV; e sempre fazia muita
festa quando passava muito tempo sumido, encantado atrás de alguma gata. Quando
estávamos todos se perguntando: por onde andara Ananias? O safado surgia com
seu miado, faminto! E parecia nos dizer como bom malandro que era: “A mim aqui
meu povo! Tem comida ai?
Todo mundo ria e brincava com ele: desde
minha vó à minha prima Val que gostava muito de animais e criou muitos gatos.
Criar bichos de estimação é sempre bom. Nos a Judá a desenvolver algum senso de
responsabilidade. De alguma maneira todos se sentiam responsáveis por Ananias.
Ate meu irmão mais velho, que para nos assustar, vivia dizendo que ia por
Ananias fora... Bem longe... Para que ele não voltasse mais. Mas, ele sempre
conseguia alguma carne com um açougueiro perto de seu trabalho para Ananias.
Infelizmente Ananias nos deixou numa manhã
qualquer no inicio de 1991; fora envenenado. Uma louca! Dizem que muito
“religiosa”, odiava todo o tipo de bicho. Especialmente gatos. E botava veneno
para matar os bichos. Na noite anterior à sua morte: Ananias fez companhia a
meu irmão mais novo e eu enquanto assistíamos TV. E resolveu sair para gandaia
um pouco mais cedo do que de costume. Ficou em pé no sofá olhando para janela;
como que pedindo que a abríssemos; “Já vai?” lhe perguntei. Seu salto em
direção janela foi sua resposta. Pela manhã: acordamos com os gritos de minha
prima Val; avisando-nos: “Ananias ta morrendo!”. E todos foram ver o que se
tratava e encontraram Ananias na porta da cozinha de minha mãe; se debatendo
para escapar da morte. Tentamos de tudo. Lhe demos leite para cortar o veneno. Mas,
já era tarde. E foi não sei em que mês; não me recordo mais a data. Exceto de
que foi num domingo nublado. E todos olhavam o gato Ananias morto. E tudo que podíamos
fazer era lamentar. Eu ate hoje sinto muita raiva da hipócrita que segundo me
disseram: “ser muito religiosa!”. Nunca consegui entender o que leva uma pessoa
cometer tal privacidade com um animal indefeso; enquanto faz pose de gente
dessente para o resto da rua. Alguma pessoas me disseram: “Ah! Vai ver ela é
muito Só, coitada!”. Oi! Então por que não foi criar um bicho de estimação? Um gato,
por exemplo?
José Correia Paz
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