Sinto que o tempo esfriou. Em plena primavera
vejo nuvens carregadas, densas e cinzas. Há serpentes fechando o cerco; seu
olhar vingativo só aguarda o momento.
E o momento nos congela, nos engessa em meio
a um discurso há muito envelhecido. Com sua
língua ferina ela espalha veneno nos corações; ela quer a guerra, o caos. Pois sabe
que o caos pode esconder sua arrogância e sua intolerância.
As serpentes quer que todos a sigam. Elas não
sabem sorrir; não reconhecem o direito de existir do outro.
Quem se sentir atraído pelo charme dessas
serpentes, estará colocando o mundo em perigo.
E pensar: que por alguns instantes, poderíamos
dizer que estava tudo sobre controle; somos pegos de surpresa em plena
primavera por velhas serpentes e seus planos mesquinhos.
Sinto que o tempo esfriou. E no vazio fomos
atirados, frente a frente com velhos monstros, que não sabem nos deixar em paz.
José Correia Paz
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