O que nos torna estranho ao olhar do outro?
Nossa solidão? Nosso jeito de andar? Nossa condição social?
As tardes, vago pelas ruas e calçadões;
Não tenho emprego; sou epilético;
Meus vizinhos, com algumas exceções, claro,
Viram a cara a me ver passar...
E o estranho é que eles se dizem tão politicamente
corretos... Tão cristãos...
Um verdadeiro poço de moralismo.
Certo, a maioria deles não sabe de meu problema. Uns acham
que sou doido; por causa de minha solidão.
Outros, vagabundo; apesar de eu estar sempre estudando, sempre
procurando trabalho, e ate fazer uns bicos quando me chamam.
Mas, no entanto a disparidade entre o discurso e a pratica
dessa gente “tão cristã” é que me intriga.
Sempre que ouço alguém me dizer:
- “Jesus aceita você como você é”;
Acho que ela quer dizer:
- “Ele aceita... mas eu não”.
E assim vago, cismado, e cada vez mais
Descrente de tudo. Um estranho conhecido
E vilipendiado fantasma num mundo sem parâmetros, que nunca
devia ter saído do porão.
Amenos:
essa é a impressão que sinto em relação
Ao
mundo; quando tento me entender com ele.
É
revoltante o tratamento que é dado pelas autoridades brasileiras a pessoas com epilepsia!
Não
há nenhum projeto digno que nos auxilie
Nos
de condições para enfrentar nosso problema.
O
epilético vive quase como um marginal.
Não
há, por exemplo: alguma instituição ou mecanismo que o auxilie para conseguir
trabalho.
Nas
agencias de emprego há como você se candidatar
A
uma vaga de emprego através de cotas para pessoas com alguma deficiência.
Mas,
só se candidatar. Pois quando chega à empresa
Para
onde a agencia lhe enviou...
É
aquela conversa... Pegam seu currículo e dizem:
“aguarde,
quando aparecer uma vaga, vamos ligara pro senhor.”.
Não
sabem eles: que posso ver em seus rostos a expressão de repudio! Pelo fato de
eu ser epilético.
O
cansativo, é que o tempo esta passando...
E
a cada dia que passa... Sinto-me descrente de tudo.
O
Brasil é mesmo uma decepção.
Só
discursos bonitos e pilantragem.
É
revoltante o estado que se encontra, aliás: como é tratada no Brasil a saúde.
Hospitais,
postos de saúde, enfim: tudo!
Tratado
com descaso crônico e cínico.
Revolta
ver nos postos de saúde, as pessoas virando a madrugada;
Para
no final só ter vaga para 12 pessoas.
E
o restante ter que tentar a sorte numa outra semana.
Uma
verdadeira loteria.
Uma
falta de respeito para com o cidadão e os seus direitos.
Quero
aqui lançar meu protesto: contra esse modelo político;
Que
se esconde atrás de um discurso politicamente coreto;
Enquanto
com sua indiferença e intolerância camufladas nos excluem!
O
estranho: é você ouvi os nossos governantes dizer que melhorou muito!
Certo,
comparado ao século XIX; pode se dizer: ouve uma grande mudança...
No
que se diz respeito apenas a medicina, houve algum avanço...
Mas
isso graças ao esforço dos profissionais que se empenharam para isso;
Para
amenizar a vida de quem luta por um pouco de saúde;
Mas
no campo social: fica muito a desejar.
Nunca
se criou ou se criou alguma coisa...
Esta
muito aquém da realidade.
Precisa-se
de um projeto, que possa dar a quem sofra de algum problema
Que
o impeça de conseguir u lugar no mercado de trabalho uma oportunidade;
E
esse projeto tem que ter transparência e vontade de transformar
A
sociedade e fazer com que ela entenda e seja mais sinceramente aberta ao
dialogo e a convivência com seus estranhos vizinhos.
Do
contrario: todo esse discurso politicamente correto do qual nos últimos tempos
tem sido praticado; não nos serve para nada.
Há não ser para se criar uma sociedade mais justa... mas só de fachada!
José Correia Paz
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