quarta-feira, 13 de agosto de 2014

HISTORIAS QUE INVENTO, HISTORIAS QUE ME ACONTECEM ( EM UM PONTO DE ÔNIBUS )


EM UM PONTO DE ÔNIBUS




Recife, centro da cidade, em  um dia qualquer de maio. Avenida Dantas barreto.

Em um ponto de onibus, um casal,
José e patrícia. Eles não se conhecem.
Silêncio, monotonia, espera...
Patricia em um vestido curto, elegante, sacolas de compras em uma das mãos;
corpo escultural, olhar irresistível.
José, com sua banda de rock predileta estampada na camisa, calça jeans, um homem...  simples; simples; quase invisível.
Por um instante de momento os dois se olham...
José, esboça um sorriso bobo, olha para o relógio
e diz: - São quatro e quinze.
Patricia não responde; apenas pensa:
- " pronto, mais esse louco agora! ".
Voltemos a espera... o som dos automóveis como trilha sonora... José boceja... olha para Patricia;
que o olha também desconfiada; ele lhe esboça mais um sorriso bobo... e lhe diz novamente as horas: - São quatro e vinte e cinco agora.
Patricia respira fundo, responde:
- Moço, eu não quero saber as horas. Não sei,
se o senhor notou; mas eu estou de relógio.
Mostra-lhe  O pulso esquerdo. - Hum! satisfeito?
José, tenta, digamos.. se explicar:
- Me desculpe! é que a senhora é tão bonita!
que eu tinha que lhe dizer alguma coisa...
Patricia, pega de surpresa. - Ah! era só o que me faltava... bom... obrigada! mas, não precisa me dizer horas tá, eu não quero saber que horas são.
- Bom, se é assim, tudo bem! responde José.
Voltemos novamente a espera...
motor de automóvel, musica brega, anuncio de vendedor. Enquanto isso, Patricia pensa:
- " era só essa, agora. Mas que sujeito sem noção!
e me achou bonita! hum! hum! bonita! nem meu marido me diz isso hoje em dia... ufa! mas que calor.... e que demora... ".
Nisso, ele lhe pergunta: - Que ônibus a senhora espera?
- O que?! Espanta-se Patricia.
Ele repete: - Que ônibus...?
- Pra que? pra que o senhor quer saber?
- Por nada! ora. Responde José, meio acanhado,
e continua: - Gosto de saber de onde vem e vão as pessoas... e se tratando da senhora... sei que não vou vê-la de novo;  então fica a lembrança.
- Oxente! resmunga Patricia, dando de ombros!
depois, mesmo sem entender porque, responde:
- Brasilia.
- Como? pergunta José.
Ela repete a resposta: - Brasilia.
- Brasilia! a senhora é de Brasilia formosa?
- Teimosa! Interrompe patrícia e ainda cumprimentando: - Brasilia Teimosa! formosa,
é só um apelido carinhoso que colocaram...
- Enfim! interrompe agora José.
- Quer dizer... para mim a senhora é formosa....
- Mas, é a santa petulância! Tenta rebater Patricia:
- Escuta aqui meu senhor...
Nisso, passa um caminhão, cheio de trabalhadores braçais na carroceria; ao avistarem Patricia; todos gritam: - "Gostosa! " " gostosa! " " gostosa! "...
Patricia interrompe o que ia dizer... faz cara de paisagem... e quando o caminhão desaparece...
olha para José. Este, esta de cara emburrada.
Volta-se para Patricia e diz: - Mas que bando de enxeridos, não!
Surpresa com a falta de noção de seu paquerador Patricia cumprimenta brincando: - É mesmo....! é muito enxerimento para uma tarde só.... né verdade?!
- Mas, voltando ao assunto. Segue José recapitulando.
- Eu sou do pina. A senhora é de  Brasilia... formosa... logo somos vizinhos. Né legal!
- Escuta aqui meu senhor! não sei se o senhor não notou... mas, eu sou casada.  Ó!
E ela mostra à José sua mão esquerda.
- Mas, eu também sou casado. Diz ele.
 Silêncio... sem entender nada... Patricia
se vê surpresa. - O senhor é casado!
- Sim! sou, mas, foi um acidente sabe!
eu à conheci numa boate... e só depois...
vim descobrir que ela é policial...
- Não brinca! Diz Patricia, se divertindo com a situação.
- Serio! ele afirma. - Ai,  tive de escolher entre
uma prisão, e outra, né?!
Patricia quer rir! tenta esconder o riso! olhando para o outro lado da avenida. Ate que José lhe
avisa: - Lá vem o onibus de Brasilia!
Ele faz sinal. O ônibus para e abre as portas.
Ele olha para Patricia e diz: - Formosas primeiro!
Patricia, levanta os olhos pro céu, como quem
pergunta " por que? " . Mas, entra no onibús.
junto com seu paquerador.
O ônibus, esta lotado, mas nem tanto.
Pois, " por sorte ", restam dois assentos vagos.
José lhe pergunta: - A senhora quer ir perto da janela?
Patricia respira fundo; mas como não vê motivo para stress... responde...
- Pode ficar o senhor perto da janela; por favor.
José se senta, ela, pensa um pouco, e como vê que
ele não lhe causaria importunos; senta-se também;  já José não consegue esconder o entusiasmo.
- Pena que vou descer logo após a ponte...
ai nuca mais vou lhe ver...
- Santa petulância! diz Patricia. Espantada com a
insistência do paquerador.
- Escuta aqui meu senhor! fala em tom baixo;
porem severa. - Escuta aqui... eu não lhe conheço;
o senhor não me conhece; logo que sairmos desse ônibus não nos veremos mais... e por favor!
não me incomode mais não... eu detesto escândalos! entendeu?!
- Tá bem! tá bem! a senhora é quem manda;
não esta mais aqui quem falou...
calam-se, voltemos agora a trilha sonora:
o barulho do transito que entra pela janela;
paisagem passando como um filme;
passageiro que entra, passageiro que sai,
toque de celular; musica brega, musica melancolia, engarrafamento.
Ate que pela janela, José avista a viatura
em que sua esposa trabalha.
E a vê indo em direção a um veiculo;
- Olha! diz ele para patrícia, que o olha já de cara
feia. - Aquela ali é minha esposa!
curiosa patrícia resolve olhar.
- Onde? pergunta ela.
- Ali! perto daquele taxi!
Patricia olha espantada e diz:
- Mas, aquele taxista, é meu marido, o que ela
vai fazer? pergunta.
- Multar ele. Eu acho!
diz José. Entusiasmado.
Porem, ao se aproximarem, a policial e o taxista se beijam. O ônibus, enfim vence o engarrafamento,
e segue... com Patricia e José acompanhando a cena; ambos sem querer acreditar.
Se acomodam nos seus assentos; sem olhar para outro. Patricia resmunga: - Santa petulância!
Vê José pensativo. Este, em alguns segundos,
volta-se para ela e lhe diz: - Ai! vamos dar o troco?

José Correia Paz

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