sexta-feira, 2 de junho de 2017

POESIA PARA CONTEMPLAR ESPECIAL


O CÃO

Dava mais do que cobrava

o cão de pelo eriçado,

pequeno, vesgo e vadio.

Foi ter às mãos do menino

como presente do tio.

Seria sombra do dono

por muitos anos a fio.

Partilhava das diabruras,

furtava bolas na rua

e, porque astuto e valente,

quando se punha no encalço

de uma cadela no cio,

em circunstâncias adversas

mantinha em nível seu brio.

Afora tantas virtudes,

pelas enchentes do estio,

atrás de objeto atirado

saltava da ponte ao rio.

O cão de pelo eriçado,

pequeno, vesgo e vadio,

dando mais do que cobrando,

permaneceu com seu dono

por muitos anos a fio.

Viu-o crescer e casar-se,

quebrar os elos da infância.

Sendo um dos elos, rompeu-se.

Então morreu de velhice

ou - quem sabe? - de fastio.

 

Rolando Roque da Silva

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