terça-feira, 21 de novembro de 2017

POESIA PARA CONTEMPLAR

Lira XV

A minha bela Marília
Tem de seu um bom tesouro;
Não é, doce Alceu, formado
 Do buscado
 Metal louro.
É feito de uns alvos dentes,
É feito de uns olhos belos,
De umas faces graciosas,
De crespos, finos cabelos;
E de outras graças maiores,
Que a natureza lhe deu:
Bens, que valem sobre a terra
E que têm valor no Céu.

Eu posso romper os montes,
Dar às correntes espaçosos
 Nos caudosos
 Turvos rios.
Posso emendar a ventura
Ganhando astuto a riqueza;
Mas, ah! caro Alceu, quem pode
Ganhar uma só beleza
Das belezas, que Marília
No seu tesouro meteu?
Bens, que valem sobre a terra,
E que têm valor no Céu.

Da sorte que vive o rico
Entre o fausto alegremente,
Vive o guardador do gado
 Apoucado,
 Mas contente.
Beije pois torpe avarento
As arcas de barras cheias:
Eu não beijo os vis tesouros,
Beijo as douradas cadeias,
Beijo as setas, beijo as armas
Com que o cego Amor venceu:
Bens, que valem sobre a terra,
E que têm valor no Céu.

Ama Apolo, e o fero Marte;
Ama, Alceu, o mesmo Jove:
Não é, não, a vã riqueza,
 Sim beleza,
 Quem os move.
Posto ao lado de Marília
Mais que mortal me contemplo:
Deixo os bens, que aos homens cegam,
Sigo dos Deuses o exemplo:
Amo virtudes, e dotes;
Amo enfim, prezado Alceu,
Bens, que valem sobre a terra,
E que têm valor no Céu.


Tomás Antônio Gonzaga 

(DO LIVRO: MARÍLIA DE DIRCEU)

Nenhum comentário:

Postar um comentário