quinta-feira, 1 de outubro de 2015

POESIA PARA CONTEMPLAR


PSICOLOGIA DE UM VENCIDO


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.


Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância ...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – esse operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra.


Augusto dos Anjos
( poema tirado do livro: "EU E OUTRAS POESIAS)

Nenhum comentário:

Postar um comentário