sexta-feira, 14 de novembro de 2014

POESIA PARA CONTEMPLAR

O CÃO

Dava mais do que cobrava
o cão de pelo eriçado,
pequeno, vesgo e vadio.
Foi ter às mãos do menino
como presente do tio.
Seria sombra do dono
por muitos anos a fio.
Partilhava das diabruras,
furtava bolas na rua
e, porque astuto e valente,
quando se punha no encalço
de uma cadela no cio,
em círcunstâncias adversas
mantinha em nível seu brio.
Afora tantas virtudes,
pelas enchentes do estio,
atrás de objeto atirado
saltava da ponte ao rio.
O cão de pelo eriçado,
pequeno, vesgo e vadio,
dando mais do que cobrando,
permaneceu com seu dono
por muitos anos a fio.
Viu-o crescer e casar-se,
quebrar os elos da infância.
Sendo um dos elos, rompeu-se.
Então morreu de velhice
ou - quem sabe? - de fastio.

Rolando Roque da Silva


(Poema tirado do livro " POESIA  PREFERENCIAL " pag 75. )

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