segunda-feira, 2 de novembro de 2015

POESIA PARA CONTEMPLAR

AS ROSAS
Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
          Matinais;
Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
          Da ilusão.
Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
          Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
          Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
          As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.
Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese à beleza,
          Pereceis;
Mas, não... Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
          Floresceis

Machado de Assis

(extraído do livro: "CRISÁLIDAS" ) 

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